Disciplina - Educação Física

Frevo

Dança 

Como na música, ocorre oficialmente um primeiro registro do termo passo para designar a dança do frevo, que segundo Goretti de Oliveira 25, foi publicado por Valdemar de Oliveira, em 1947, mas provavelmente o termo já era empregado pelo povo, anteriormente. Apesar de ser usualmente utilizada, muitos discordam dessa denominação, da classificação de que frevo é música e passo é dança. Justificada pelo fato de que, quando a palavra frevo surgiu, estava muito mais relacionada à efervescência e ao rebuliço das multidões nas ruas (vinculadas à conjuntura social e cultural da cidade), do que à música, que na época era chamada de marcha carnavalesca. 

“Não foi passado isso pra ninguém. Quando se colocou o nome, não foi relacionado só à música, foi relacionado ao movimento também, mas ninguém discute isso. Basta dizer que quando havia qualquer confusão relacionava-se a frevo... ‘tá um frevo danado ali’. O que ficou como frevo foi a música e o passo dividiu-se como o que dança, só que na verdade o frevo é a música e a dança juntos. (Walmir Chagas 26 - entrevista realizada em 13/09/2006) 

No frevo, não há como separar dança e música. Não se sabe se a dança foi se adaptando à música ou se a música se acelerou em função dos movimentos, ou ambas ocorreram simultaneamente. 

“O passo surgiu de um processo de elaboração lento e espontâneo. Os populares que acompanhavam os passeios das agremiações – mas não pertenciam às mesmas e não participaram das ensaiadas manobras – sentiam-se contagiados pelas marchas excitantes, executadas pelas orquestras. Incorporavam o ritmo vibrante das músicas e deixavam fluir os passos da dança, quase sempre individual, a sugerir agressividade e defesa. Os movimentos ágeis e definidos dos corpos, por sua vez, retornaram aos músicos e inspiravam novos acordes, num processo incessante de troca improvisação e criação coletivas.”

A origem do passo é bastante discutida. Valdemar de Oliveira 28 cita algumas hipóteses: que o passo tenha se originado das festas profano-religiosas de São Gonçalo do Amarante; que surgiu do galope (para o autor pouco provável porque era uma dança executada em pares nos salões); ou ainda que tenha se configurado por meio das pessoas que acompanhavam o Teatro do João Minhoca do Clube Cara-Dura 29. Sobre esta última tese, o pesquisador Leonardo Dantas cita: “Confirma o escritor Hermógenes Viana, em seu depoimento prestado ao compositor Capiba, publicado parcialmente na contracapa do disco Mocambo, LP 40039, Capiba: 25 anos de frevo, que esse ajuntamento, o burburinho, formado pelos perseguidores do Clube Cara-Dura, era denominado de frevedouro e os seus passos, no acompanhamento das polcas e marchas, tornavamse cada vez mais acelerados.” Os pesquisadores Valdemar de Oliveira, Rita de Cássia, Mário Sette e Roberto Benjamin, discordam dessas teorias , e acreditam na origem do passo relacionada aos negros que vinham à frente das bandas militares e percorriam as ruas do Recife, no final do século XIX. 

Valéria Vicente 31 afirma que atualmente quase não se fala da relação do frevo com o negro. “Talvez pela necessidade de aceitação local, para se tornar símbolo. Ou talvez  porque essa herança ressalta um lado do frevo que interessa ‘menos’, a marginalidade que os recém libertos pela escravidão foram lançados nos centros urbanos”. E é justamente neste período que a capoeiragem cresce. Os capoeiras eram considerados vadios, desordeiros e assassinos, temidos por todos. No Recife, além do entusiasmo, os desfiles ocorrem como verdadeiros desafios de luta. Armados de cacetes, os grupos se engalfinhavam aos gritos de Vivas! e Morras!, de acordo com o lado ou partido que defendiam. 

Viva o Quarto, 
Fora o Espanha! 
Cabeça seca* 
é que apanha 
Ou, sempre desafiadoramente: 
Não venha, 
chapéu de lenha! 
Partiu, 
Caiu, 
Morreu 
Fedeu! 

(*) cabeça seca era sinônimo de escravo 

Pernadas e cotoveladas, competições violentas que muitas vezes resultavam em acidentes sérios. Nos primeiros anos do século XX, ainda os capoeiras estavam à frente das bandas, militares e civis. Sobre este assunto Gilberto Freyre, Mário Sette e Evandro Rabello escreveram: 

“[...] até entre ruas há rivalidades. São José foi outrora o bairro dos valentões, dos capangas, dos desordeiros, das eleições com barulho e facada, das procissões com gente navalhada. 

[...] O Largo do Mercado várias vezes, aí para os fins do século XIX, transformou-se em campo de batalha. As rivalidades de ruas e bairros iam decidir-se lá.”

“[...] os capoeiras tinham a função de dispersar a multidão e abrir espaço para o Clube passar. 

Também deveriam defender os membros da agremiação agredidos durante o desfile do ataque de maltas, ou clubes rivais.” 

“[...] gingando, piruteando, manobrando cacetetes e exibindo navalhas. Faziam passos complicados, dirigiam pilhérias, soltavam assobios agudissimos, iam de provocação em provocação até que o rolo explodia correndo sangue e ficando os defuntos na rua.” 

Para Carlos Eugênio Soares 36, a Guerra do Paraguai havia mudado a leitura popular sobre a participação no Exército. O serviço militar, antes execrado, era agora cobiçado  como caminho para conseguir a alforria e uma posição melhor no Império. Segundo  Evandro Rabello (2004), registros jornalísticos demonstram a presença ativa de soldados fardados, exibindo-se publicamente nas rodas de capoeiragem. Estes capoeiras fardados sentiam-se mais protegidos das investidas repressoras da polícia, já que os próprios soldados do Exército, quando envolvidos em desordens, recusavam-se a aceitar a autoridade da polícia provincial. A rivalidade entre os clubes carnavalescos, que surgem no final do século XIX (e ainda na atualidade) por parte das corporações profissionais do Recife, também era comum. Leonardo Dantas 16 evidencia que segundo informações contidas nos jornais A Pimenta, de 1901, e Jornal Pequeno, de 1907, os capoeiras, brabos e valentões, praticavam golpes de capoeira em frente aos cordões. 
No início do século XX, a capoeira foi rigorosamente reprimida. Os capoeiras eram proibidos de andar com armas e não podiam nem assobiar, pois isso representava uma espécie de código para avisar que a polícia estava por perto. 


Este conteúdo foi acessado em 12/09/2013, faz parte do Dossiê de Candidatura - Frevo, presente no site: www.iphan.gov.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.

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