Disciplina - Educação Física

Educação Física

06/12/2013

Mandela usou rúgbi e futebol para unir a África do Sul

Primeiro presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela morreu nesta quinta-feira em sua casa, em Johanesburgo. Ele tratava uma recorrente infecção no pulmão. Ao longo dos 95 anos de vida, tornou-se símbolo da resistência negra e da luta contra o apartheid (regime de segregação racial) e teve o esporte como grande aliado em seu objetivo de unir as pessoas.

Desde a adolescência, Mandela teve gosto pelas atividades esportivas, em especial pelo boxe. Seu ídolo era Joe Louis, norte-americano que manteve o título dos pesos pesados entre 1937 e 1949. Inspirado pela forma com a qual o pugilista se portava nos ringues, o sul-africano passou a ver o esporte como uma ferramenta para desenvolver a liderança e auto-confiança nas pessoas.

Na sua autobiografia, intitulada "Longo Caminho Para a Liberdade", Mandela escreveu: "O boxe é igualitário. No ringue, posição, idade, cor e riqueza são irrelevantes. Quando você está diante de um oponente, você não pensa na cor ou na posição social dele."

A maneira de enxergar o esporte nunca mudou. Em 1994, trinta anos após ter sido sentenciado à prisão perpétua, Mandela assumiu a presidência da África do Sul e não demorou muito tempo para mostrar que carregou sempre consigo os pensamentos que tinha quando via Joe Louis nos ringues, antes de entrar para a vida política. 

Assim que chegou ao poder, Mandela ajudou o país a se tornar sede da Copa do Mundo de rúgbi, que seria disputada no ano seguinte. Tratava-se de mais uma ação para tentar unir o povo sul-africano, fazendo com que brancos e negros enterrassem o ódio remanescente da época do apartheis e vivessem em harmonia. 

A missão de fazer as pessoas fazerem parte de uma só torcida para apoiar a seleção sul-africana no Mundial não era fácil. Afinal de contas, o rúgbi era praticado pelos brancos, ao passo que os negros adotavam o futebol como esporte número 1. Mas o objetivo foi alcançado. A proximidade estabelecida por Mandela com François Pienaar, capitão da equipe, foi fundamental para que tudo desse certo. Foi através disso que os demais jogadores tiveram noção do que poderiam fazer pelo país naquela oportunidade.

Tudo acabou dando tão certo que a final terminou com vitória sul-africana sobre a Nova Zelândia, amplamente favorita naquela oportunidade. Mas o ato que simbolizou o sucesso da estratégia de Mandela aconteceu antes mesmo de a partida começar, quando ele entrou em campo e recebeu os aplausos de todo o estádio, que contava com a presença de brancos e negros. Conseguiu, portanto, fazer o povo se unir e abraçar a seleção local. A história é mostrada no filme "Invictus", dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Morgan Freeman e Matt Damon.

No ano seguinte, em 1996, foi a vez de acontecer algo parecido com o futebol. Graças à desistência do Quênia, a África do Sul sediou a Copa Africana de Nações. A seleção do país, assim como aconteceu com a equipe de rúgbi, usou o apoio da torcida local para se superar e conquistar o título da competição pela primeira vez.

A Copa do Mundo de rúgbi e a Copa Africana de Nações foram apenas as primeiras etapas do plano de Mandela de trazer grandes eventos esportivos ao país. Em 2004, já fora da presidência, recebeu a notícia de que a África do Sul seria sede da Copa do Mundo de 2010. Pela primeira vez, a principal competição de futebol do mundo aconteceria em território africano.

Antes de Espanha e Holanda entrarem em campo para decidirem o título da Copa de 2010, Mandela desfilou pelo Soccer City em um carrinho de golfe, ao lado da mulher. Foi a única aparição pública dele durante a competição. Foi, também, a última da sua vida.


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